
Animal Silvestre Era Usado em Conteúdo para Redes Sociais
Nesta segunda-feira (14), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) resgatou uma jaguatirica mantida ilegalmente em uma propriedade no município de Uruará, no sudoeste do Pará. O felino, que pertence à fauna silvestre brasileira, era criado como animal de estimação pela influenciadora digital Luciene Candido, que exibia o animal em suas redes sociais, onde possui mais de 300 mil seguidores.
Interações Inadequadas e Riscos à Saúde do Animal
Os vídeos publicados pela influenciadora mostravam a jaguatirica em situações incompatíveis com sua natureza selvagem: o animal aparecia dormindo em camas, sendo carregado no colo, interagindo com cães, gatos, galinhas e até um cavalo. Além disso, o felino era alimentado com uma dieta imprópria para sua espécie, o que pode causar sérios problemas de saúde.
Durante a operação, os agentes ambientais encontraram o animal em cima de um guarda-roupa dentro de um quarto da residência. A jaguatirica tinha livre acesso à casa, incluindo áreas onde eram armazenados herbicidas, o que representava um risco adicional à sua integridade física.
Multa e Notificação para a Influenciadora
Luciene Candido foi autuada pelo Ibama e multada em R$ 10 mil, conforme a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), que proíbe a criação, posse e exploração de animais silvestres sem autorização. A influenciadora também foi notificada a remover todos os vídeos envolvendo o animal de suas redes sociais, sob pena de multa diária em caso de descumprimento.
No entanto, até esta quarta-feira (16), o material ainda estava disponível em seu perfil. A CNN tentou contato com a influenciadora, mas não obteve resposta.

Riscos de Doenças e Condições Precárias na Propriedade
Além da situação da jaguatirica, os agentes do Ibama constataram que os cães da propriedade apresentavam sinais de leishmaniose, uma zoonose grave que pode ser transmitida a humanos e outros animais. A presença de animais silvestres em contato com domésticos aumenta o risco de transmissão de doenças e desequilíbrio ecológico.
Reabilitação e Possível Reintrodução da Jaguatirica à Natureza
Após o resgate, a jaguatirica foi encaminhada a um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), onde passará por um rigoroso processo de reabilitação. Esse procedimento é essencial para avaliar se o animal ainda possui condições de voltar à vida selvagem ou se precisará de cuidados permanentes em cativeiro.
Etapas do Processo de Reabilitação
Etapas do Processo de Reabilitação
- Avaliação Veterinária Inicial
- Exames clínicos para verificar doenças, desnutrição ou lesões.
- Testes para detectar zoonoses (como leishmaniose, que foi encontrada em outros animais da propriedade).
- Análise comportamental para identificar se o felino ainda mantém instintos selvagens ou se está muito habituado ao contato humano.
Recuperação Física e Nutricional
Dieta específica para felinos silvestres, com alimentos naturais como pequenos mamíferos e aves.
Tratamento de possíveis doenças adquiridas no cativeiro.
Exercícios para fortalecimento muscular, já que animais criados em ambientes domésticos podem perder habilidades essenciais para a caça e sobrevivência.
Reabilitação Comportamental
Redução gradativa do contato humano para evitar dependência.
Estímulo aos instintos naturais, como caça e fuga, através de técnicas de enriquecimento ambiental (esconder comida, simular situações de predação).
Interação mínima com outros animais domésticos, evitando que a jaguatirica perca o medo de potenciais ameaças.
Pré-Soltura e Aclimatação
Transferência para um recinto maior, que simule o habitat natural (vegetação densa, árvores e espaço para movimentação).
Monitoramento contínuo para avaliar se o animal está apto a caçar, se esconder e se defender sozinho.
Origem do Animal Ainda é Desconhecida
O Ibama investiga como a jaguatirica foi retirada da natureza. De acordo com Alex Lacerda de Souza, superintendente do órgão no Pará, o animal pode ter sido capturado ainda filhote, possivelmente após a caça da mãe ou durante um momento de vulnerabilidade na natureza.
“Animais silvestres não devem ser domesticados. Eles pertencem à natureza e sua interação com humanos e animais domésticos coloca em risco sua sobrevivência e a conservação da espécie”, reforçou Souza.
Conscientização e Combate ao Tráfico de Animais Silvestres
Este caso reforça a importância de denunciar a posse ilegal de animais silvestres. O Ibama alerta que, além de ser crime, a prática prejudica o equilíbrio ambiental e submete os animais a condições inadequadas. Quem encontrar situações semelhantes pode fazer denúncias através da Linha Verde do Ibama (0800 61 8080) ou pelo site oficial do órgão.
A jaguatirica é uma espécie protegida por lei e essencial para a biodiversidade brasileira. Sua preservação depende do respeito aos seus hábitos naturais e da fiscalização contínua contra o tráfico e a domesticação ilegal.